segunda-feira, 18 de abril de 2011

A Páscoa... ou toneladas de ovos de chocolate

A tipologia das superficies comerciais em Génova é definitivamente distinta da de Coimbra, para dar um exemplo: ao passo que numa cidade de 100 mil habitantes havia 3 hipermercados, em Génova cidade não há nenhum, e é preciso andar 10km fora da cidade para se encontrar um (e mesmo assim, de dimensões não tão hiper quanto isso). No entanto devo dizer que se conseguem sempre encontrar surpresas nestas superfícies comerciais... Se há algumas semanas era um fórmula 1 da Toro Rosso no meio de uma das alas, e depois disso foi a venda da constituição italiana por alturas da celebração dos 150 anos da unificação de Itália, agora nesta época do ano o mais surpreendente é a variedade de ovos de chocolate para a Páscoa. Em Portugal a tradição de guloseimas de Páscoa são essencialmente as amêndoas. Pois aqui fazem a coisa pela medida grande e podem-se ver ovos de todos os tamanhos e feitios, desde os pequeninos com 150g até, imagine-se, ovos com quase 1 metro de altura! É uma ala inteira que os ovos de chocolate apenas partilham com outra das especialidades de Páscoa: a colomba. A colomba (traduzido à letra significa pomba) é um doce tradicional que consiste numa espécie de pão doce e pode ter frutos cristalizados e passas no seu interior. Existem ainda versões mais modernas, com recheio de chocolate ou de creme pasteleiro ou bolos semelhantes com a forma de um coelho (not the white rabbit... este é castanho e sabe a chocolate negro e côco). O problema é que com tanta variedade (quer de ovos, quer de colombas), e não se sendo um connaisseur, torna-se complicado escolher! Bom, e depois de escolher o problema vai ser conseguir enfiar na mala a colomba e mais o ovo (e mais as garrafas de vinho...hum... será que vou ter espaço para a roupa?) e fazê-los subsistir intactos a uma viagem Génova-Lisboa com passagem por Munique!

Apontamento prévio

Faz agora 1 ano (e 1 mês) (... e 23 dias... e não me peçam as horas e minutos) que estou a viver em Génova. A habituação à cidade não foi difícil. Apesar de ser uma cidade com uma população igual a Lisboa que vive numa área geográfica do tamanho da aldeia do Asterix, por certa medida recorda-me Coimbra, visto que é uma cidade pequena em comparação com uma Milão ou Torino.
O ajuste ao estilo de vida também foi simples. Em Itália fazem-se os horários mais ou menos normais, e a única inovação foi o chamado "aperitivo". Não, não é uma bebida... Bom, tecnicamente até é, mas não só. À semelhança do que se faz em outros países, a malta quando sai do trabalho, em vez de ir para casa, vai para os bares descontrair. Mas não vão apenas para beber, mas também para petiscar. Um bocado de pizza daqui, e vai uma cerveja, umas batatas fritas dali, e vai um Spritz (uma bebida tipicamente italiana, aperitivo-específica), e com isto passam-se 2-3 horas e acaba-se por voltar a casa já com uma bagagem no estômago que não puxa a jantar.
A coisa mais difícil de me adaptar foi mesmo a burocracia... Quer dizer, não a burocracia em si, porque essa há em todo o lado, e nós em Portugal somos especialistas na matéria, mas as formas de aldrabar o sistema. Querem exemplos? Estou a viver num magnífico apartamento com vista para uma espécie de marina/porto onde está "estacionado" um submarino. É uma localização fantástica, e pago um preço muito acessível porque partilho a casa com um colega de trabalho (deixemos esse pequeno - e falo também em termos de estatura física e moral da pessoa - detalhe para outras núpcias). Ora, logo quando fomos fazer o "contrato" (e já vão ficar a perceber as aspas), deu para entender como a coisa era feita... 500€ para o senhor da agência, nada de recibo (em vez de pagarmos os 850, que correspondem ao valor da renda). Depois o "contrato", que foi apenas assinado por nós e pelo senhorio e não foi registado. Logo, em termos de validade, 0! Até aqui, tudo muito bem... Mas depois começam os problemas... Para poder beneficiar de um regime fiscal especial (pagar apenas impostos de 10% do ordenado em vez do total) necessitava estar inscrito na comune de Génova (a chamada Iscrizione Anagrafica). Como uma pessoa normal, fui lá com os meus papelinhos, apanhei uma funcionária com umas trombas maiores que de um elefante africano, mas tudo estava a correr bem, até que a senhora decide verificar a morada e constata que naquele local estavam inscritas outras 4 pessoas como residentes! E quem eram essas pessoas? O meu senhorio, a mulher e as filhas! E aqui entra a minha falta de cara-de-pau. Se eu fosse um qualquer aldrabão, dizia logo que sim, e o assunto estava resolvido. Mas fiquei naquela do "ah, não sei, não fui eu que tratei dos papéis...". Pronto, caldo entornado. To make a long story short... Com toda esta embrulhada eu ganhei a residência na casa onde morava, a residência do senhorio e família foi retirada, a mulher do senhorio que deve ter uns 5 parafusos a menos passou-se por completo, entretanto retiraram a minha residência dali, meteram de novo a do senhorio e mudaram a minha para a casa onde eles agora estão a morar! Ou seja, eu moro numa casa e tenho residência oficial na casa onde mora o senhorio, e vice-versa! Tudo somado, foram quase 6 meses de complicações, gritos ao telefone (da maluca da mulher do senhorio) e papeladas. Entretanto vamos ver o que acontece quando acabar o contrato... Gostava de arrendar uma casa na zona de Nervi, onde estivesse junto ao mar, com o parque ali ao pé para poder ir correr ao fim do dia...
Bom, um outro aspecto que me desiludiu um pouco em Génova é em termos de género feminino. Devo dizer que para uma cidade italiana, Génova está ao nível de Ermesinde... (para quem não entender à primeira, ver aqui http://www.youtube.com/watch?v=-o2vtYOmeWs). É claro que como em toda a parte há excepções à regra, mas esperava mais e melhor.
Mas se em Génova não há "gajas", ao menos há cultura! Estamos a falar de uma cidade com muito que visitar, com imensos museus e edifícios históricos, com exposições de pintura e fotografia quase todas as semanas, com cinemas, teatros, concertos... e até ópera e bailado! E depois há o mar... o mar em Génova cidade não é exactamente dos mais limpos, mas basta andarmos uns kms para o lado e damos por nós em locais como Nervi, onde a água é super-transparente e bem quentinha (para quem estava habituado aos fantásticos 15ºC all-year-round da figueira, poder tomar banho de mar em Abril é uma benção!).
Tudo somado, está a ser uma grande experiência, não apenas a nível profissional (não me posso queixar... ganho bem e faço o que gosto, num laboratório com as melhores condições que alguma vez vi), mas especialmente a nível pessoal. Assim sendo, e como estou a aprender melhor a disfrutar de todas as vantagens da vida mais ao centro-sul da Europa, decidi montar este blog para ir divulgando as coisas interessantes que se fazem por terras de Cristovão Colombo (sim, eu sei... mas deixem os coitados manterem a ilusão de que o homem era de cá) e não só.